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segunda-feira, 16 de abril de 2012

Travestis pagam aluguel para se prostituir em Minas


Alex Capella e Carlos Calaes - 
Travestis tomam conta da calçada da Afonso Pena no sentido bairro/Centro
Travestis tomam conta da calçada da Afonso Pena no sentido bairro/Centro
Quando a noite cai, pelo menos 14 quarteirões da avenida Afonso Pena, principal corredor de trânsito do Centro de Belo Horizonte, passam a ter donos. Entra em cena um grupo seleto formado por traficantes e cafetões que transforma a via em referência no comércio de drogas e de sexo fácil, envolvendo, principalmente, os travestis. Quem não segue à risca as regras ou atravessa o caminho dos mandatários do corredor é expulso do mercado ou pode acabar morto.

A pena capital se dá, na maioria das vezes, quando os travestis não pagam as dívidas do tráfico ou o “aluguel”, aos cafetões, pelo metro quadrado da “pista” mais cobiçada pelos integrantes do submundo da capital. Por sorte, alguns sobrevivem, mas não antes de receber de presente “um doce”. A gíria é atribuída a castigos como a raspagem das cabeças, o envenenamento das próteses industriais aplicadas nos seios e nos glúteos e até a mutilação de membros.

Os traficantes da área, geralmente revendedores de pequena escala, são de favelas próximas à Região Centro-Sul, mas há quem saia de “bocas” instaladas em Contagem e Betim, na região metropolitana. Não é difícil flagrar motoqueiros, que seriam contratados por chefões, entregando pequenos pacotes aos travestis, um forte de indício do tráfico. A cocaína, ao lado da maconha, continua reinando no comércio, mas o crack avança, apesar do poder de degradação física e psicológica. Os travestis, que sobrevivem da venda do corpo, tentam evitá-lo.

Os quarteirões da avenida são valorizados porque estão localizados em uma área de pouca violência e possuem várias referências conhecidas pelos clientes marcados por telefone. A prostituição na via fica evidente a partir das 22h, quando começam a surgir os grupos de travestis, a maioria ocupando o lado da avenida no sentido bairro/Centro.

Os moradores do entorno veem tudo: da negociação com os clientes ao exibicionismo das partes sexuais para atrair a freguesia. Os travestis, dependendo da aparência, cobram de R$ 30 a R$ 120 – para homens mais velhos ou em carros importados, o valor é maior – por programas que não duram mais de 20 minutos, geralmente feitos em um motel próximo ou nas ruas escuras ao redor. Além de prazer, alguns oferecem as drogas repassadas pelos traficantes que, ao fim do trabalho, fazem o acerto de contas, seja na forma de dinheiro, seja com violência. A exploração acontece também pelos cafetões ou cafetinas.

Na semana passada, a equipe do Hoje em Dia percorreu a avenida Afonso Pena durante três noites, quando acompanhou, de dentro de um carro, o trabalho frenético das “bonecas”, forma de tratamento usada pelos próprios travestis. O modo de agir vai da exposição dos corpos em stripteases a céu aberto ao cerco agressivo aos clientes.

Chamaram atenção as investidas frequentes dos motoqueiros junto aos profissionais do sexo. Abordados pela reportagem, alguns confirmaram pagar pelo “aluguel da pista”. “Você é doida de falar sobre isso, mona”, repreendeu um dos travestis, dando a entender que o assunto, além de sigiloso, pode ser perigoso. Por outro lado, todas negaram envolvimento com o tráfico.

Uma das mais famosas cafetinas, conhecida como Vitória, cobra R$ 60, por semana, pelo “uso” da avenida Afonso Pena. Quem quiser ocupar algum ponto da calçada terá que pagar a diária. A “cafetinagem”, em geral, é feita por travestis mais velhos. Por não conseguirem mais sobreviver da prostituição, eles montaram uma rede de influência formada por colegas, traficantes e até policiais. “Se a gente não pagar, mandam até nos matar”, disse um travesti que se identificou como Raquel (*).
(*) Nomes fictícios

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